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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Conecte-se

Conectar-se significa fazer um link com algo. É como uma âncora, onde você se joga e aporta em alguma coisa. Qualquer atividade que fizermos na nossa vida, seja ela pessoal ou profissional, somente será 100% usufruída se houver uma conexão entre ambas as partes. O dançarino se conecta com a música para apresentar a sua melhor dança. O médico se conecta com o seu paciente para melhor compreendê-lo. O advogado se conecta com o seu cliente para melhor assessorá-lo. O professor se conecta com o seu aluno para poder auxiliá-lo em suas deficiências. O Ator se conecta com o outro Ator para oferecerem a melhor performance. Na fogueira das vaidades do mundo artístico, muitas vezes percebemos que a conexão de 2 atores na mesma cena não aconteceu. O resultado, é uma cena capenga, onde um tentou se destacar em solo, mas como não houve conexão entre ambos os atores, a cena ficou frouxa. Temos que lembrar que uma cena de dupla, precisa haver estímulo dos 2 personagens: 1 ator precisa motivar o outro ator , somente assim a cena ficará satisfatória. A cena não é de um, é dos 2 atores. Isso precisa ser entendido. Da mesma forma, a relação entre Diretor e Ator se baseia na conexão. O Diretor expõe para o Ator a sua visão do projeto, e cabe ao Ator compartilhar esse mesmo ponto de vista. Às vezes essa conexão se dá não em palavras, mas em olhares. Já observei situações onde o Ego e até mesmo o Mêdo estragou essa relação entre Ator e Diretor: O Diretor, temeroso do Ator famoso, deixou-o fazer a cena como ele imaginou, e por conta disso, o Diretor internamente ficou insatisfeito, mas deixou assim mesmo. O Ator, por sua vez, se não se conectou com os desejos do Diretor, precisa puxá-lo para um canto e expôr para ele a sua insatisfação ou desentendimento da cena. Ninguém poderá fazer uma boa performance sem haver se conectado com os elementos que a cena lhe oferece: Cada elemento presente faz parte do Universo do Personagem. A roupa que ele usa, a sua maquiagem, seu penteado, a cenografia do ambiente onde ele está presente. A música que toca que lhe provoca emoção. Os outros personagens que compartilham a mesma cena. Os figurantes que ilustram o ambiente. A locação onde você está. A conexão é como uma descarga elétrica. Precisa provocar um "Choque", precisa lhe tirar do estado de inércia e te motivar para algo. ARRASA!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A etnia como obstáculo

Lembram daquela frase da Campanha do Governo durante as eleições? "Mulher, negra, pobre e favelada". Essa frase me marcou pelo estigma que ela cria sobre um indivíduo. Pasolini, o Cineasta italiano, tinha contra si a frase: Gay, comunista, ateu. E assim ficamos presos a uma marca que adoraríamos que fosse substituída por "Liberdade, igualdade, fraternidade". O mercado artístico é assim, trabalha também com esse estereótipo, com essa marca que carimba em nossas testas o que somos. As pessoas ganham auto-estima e amor próprio ao declararem o seu amor pela sua raça, a pessoa toma coragem e sai do armário, a pessoa toma coragem e assume que é ateu em um País majoritariamente católico...e ganha um carimbo na testa, dado pelo Mercado de trabalho que faz questão de reforçar o que somos ou deixamos de ser. Você é negro, você é amarelo, você é índio. O processo de escalação de elenco é sempre uma loucura. Durante a escolha de elenco, sempre ouvi os Diretores falarem coisas do tipo: "Ele é mulato, não serve, não é negro o suficiente. Ela é mestiça, quero oriental de olho puxado, ela não serve. ". Eu sempre reparo em seriados e filmes americanos, e que, no passar dos anos, foram ganhando um contorno mais globalizado e aceitando a diferença racial de uma forma mais natural e sme marcar os estereótipos. Assim, em séries como "Grey's anatomy", "Glee", "The walking dead", por ex, temos atores negros, orientais que atuam com a mesma proporção que os atores brancos, e sem trata'-los como o "oriental", "O negro". São todos iguais. Não tem escravo, não tem suhsi-man. São médicos, alunos, advogados. Aqui no Brasil, ainda caminhamos a passos curtos em relação a essa igualdade de divisão de papéis. Infelizmente o estereótipo é o que comanda aqui na escalação de elenco. São poucos os atores que adquiriram um status de poderem interpretar outros personagens que fujam do estereótipo. Eu antes de trabalhar atrás das câmeras, era Ator e fazia pequenas participações em comerciais , series e filmes. Obviamente que todos os papéis que eu interpretava reforçavam a caricatura de como uma pessoa enxerga um oriental. Eu me sentia um personagem do filme 'Encontros e desencontros", aquele olhar clichê do homem branco sobre uma outra cultura. Uma vez, um assistente de direção chegou e falou pro Diretor: " O Hsu é chinês, não é japonês". Estavam procurando japoneses pro comercial. No que o Diretor retrucou: "É tudo a mesma coisa". Quando escalamos índios, o que vemos nos testes é: bolivianos, peruanos, manauaras, e até mesmo, orientais. O pensamento é o mesmo: "É tudo a mesma coisa". Até que chegou um dia que cansei de brincar disso e fui atrás de outras cosias. Sei o quanto é difícil, quando você faz parte de uma minoria, sobreviver sendo ator. As chances são muito menores, e por você ter menos possibilidade de trabalhar, a pessoa acaba não praticando a profissão e enferruja. Raramente é chamado para testes em comerciais, em filmes só se for algo especfífico. Torço para que um dia a escalação seja feita em cima do talento e nao da côr. ARRASA!

terça-feira, 24 de junho de 2014

Comédia o mais dificil dos generos

COMÉDIA: O MAIS DIFÍCIL DOS GÊNEROS A comédia sempre foi vista aqui no Brasil como um gênero menor. É só observarmos nas premiações e Festivais a quantidade de produções indicadas nesse gênero, e a quantidade de drama. Teve uma vez, que a Atriz Ingrid Guimarães estava indicada por uma comédia nacional e disputava o título de melhor atriz com Gloria Pires, que havia feito "Lula, o filho do Brasil". Ingrid entendia que era difícil disputar com uma atriz em papel dramático, quando ela estava disputando por um papel cômico. Não é à tôa que o Globo de Ouro, Festival de cinema e tv americano, separa nas premiações esses 2 gêneros. Talvez seja o único do mundo que entenda que são 2 universos distintos e que os atores de comédia merecem uma disputa honesta. Já trabalhei em muitas comédias, desde a pastelão ate as de humor mais fino, irônico. Tive o prazer de trabalhar com grandes atores que se divertiam fazendo papéis cômicos. Às vezes eram comediantes, outras eram atores que mergulhavam com muita propriedade em Drama e Comédia. Aqui no Brasil, são raros os atores que conseguem trabalhar em vários gêneros. A grande maioria dos comediantes, são vistos apenas como comediantes. Por outro lado, quando um Ator de drama vai se aventurar na comédia, já ouço logo os seguintes comentários: "Mas esse Ator não sabe fazer comédia. Não tem humor."" Isso fica muito claro na hora da escalação de elenco. O produtor de elenco apresenta as opções para o Diretor, e é muito comum escutar: "Esse aqui é comediante, não sabe fazer drama". "Essa aqui só sabe fazer drama, Quem vai querer ver fulano fazendo comédia?". Fiz numa ocasião um Workshop e perguntei a um Produtor de elenco que ministrava o curso porquê as pessoas não ousavam escalar atores em papéís inusitados, diferente de tudo o que haviam feito. Porquê sempre vão no comediante para fazer comédia. Ela foi objetiva na resposta: "Os produtores e Diretores não querem arriscar. Cinema e tv são produtos muito caros, existe uma logística de filmagem que não permite fazer ajustes durante o processo. Se o Ator na filmagem não fizer as pessoas da equipe rirem, já era. Principalmente na comédia, o público sabe o que esperar daquele produto."" Eu no entanto, adoro comédias e sempre achei o gênero mais difícil de se fazer, tanto para Diretores quanto para atores. Não existe nada pior para um ator, do que contar em uma cena uma situação divertida e ninguém rir. Em teatro, isso chega a ser constrangedor. A gente percebe que o Ator dá uma pausa para a reação do público, mas ela não vem. Na minha oficina, um dos exercicios que faço é contar piadas. Simples assim. Peço para que todos os alunos, um por um, conte uma piada pra turma. E na maioria das vezes, os risos não vêem. Porquê? Contar piada, saber fazer rir, é uma arte. Você precisa saber narrar com dinâmica (Timing); não pode gaguejar, não pode parar para se lembrar do que vai contar; precisa manter o suspense do inicio ao fim; precisa narrar no tempo certo e não esticar demais, e precisa saber narrar com emoção e tesão. Difícil, não? Tudo isso ainda buscando o olhar de cumplicidade do ouvinte, pois é para ele que você está narrando. Quando dirigi a Série "Por isso eu sou vingativa", percebi a dificuldade de alguns atores de entrarem no personagem e na cena. A serie trabalhava com um humor ferino, cáustico, na linha de Peter Sellers em "Um convidado bem trapalhão". Às vezes vinha pantomina pura, outras era uma piada visual. Era comédia em degradé, em vários tons. Quando eu percebia que o Ator tinha dificuldade, eu dizia: "Não tenha medo de pagar mico. Não tenha senso crítico sobre o que você está fazendo. Apenas se divirta."" Quando o Ator não tem muita experiência em comédia, ele tende ao exagero, ao humor físico, porquê acredita que as pessoas irão rir de tropeçadas, de escorregões, etc. Dependendo da gag, isso até funciona. Mas o mais importante, é fazer de verdade. Por mais louca que seja a situação, faça de verdade. Não force o riso. Eu como espectador, quero acreditar que esse seu personagem existe, ele está por ai, andando na rua em algum lugar. Quando você força demais o personagem no humor, já fico vendo um Ator interpretando, O Cineasta Stanley Kubrick uma vez respondeu em uma de suas raras entrevistas, que em "O iluminado", ele pediu para que os atores interpretassem de forma realista, mesmo sendo um filme de terror. Isso porquê as situações do filme, os diálogos e a história já eram por si só fantásticas, então ele não quiz realçar nas atuações. Dessa forma, os personagens vêem mais fortes e críveis para a platéia. Vez ou outra me deparo com um ator que vem dizer para mim que tem dificuldade enorme em fazer comédia. Eu pergunto para elas: "Você é uma pessoa que sabe fazer as pessoas rirem? Você se diverte em comédias? É bem humorado? Sabe enfrentar as dificuldade da vida com certa dose de "savoir faire", sem se desesperar?"" Se deixe levar pelo Personagem. Se divirta. Não tenha, absolutamente, nenhum medo de pagar mico. Esse é o grande obstáculo dos atores. Medo de pagar mico. Se solta, se entrega, e ria. Ria muito. Pensem em Meryl Streep. A mesma atriz que trouxe uma das interpretações mais dramaticas da história do cinema em "A escolha de Sofia", é a mesma atriz do musical cômico "Mamma Mia". Quando assiste ao filme, eu ficava o tempo todo pensando: "Caralho, que atriz!!". E eu ficava feliz, ficava feliz pela Meryl, porquê ela estava radiante no filme, era nítido que ela se divertia em cena. Os seus sorrisos eram genuínos. Quem não lembra da cena dela dançando com as amigas uma coreografia do grupo Abba, usando aquelas roupas espalhafatosas??? NÃO TENHAM MEDO DE SE JOGAR, DE PAGAR MICO. Apenas se divirtam. Não fiquem pensando em todos aqueles anos de Grotowski, Stanislawski, Meisner, etc etc etc e em como usar essas técnicas pro Personagem. Isso vai fazer você enrijecer . Apenas se solte, improvise, relaxe.

sábado, 21 de junho de 2014

Não envie seu material a toa

Eu fico me perguntando o tempo todo porquê os Atores gastam dinheiro mandando imprimir uma porrada de cópia de suas fotos, de seus dvds com videobook e pior, enviando para Diretores! Se estressam, vão trás de emails, endereço profissional e residencial, alguns até ficam plantados na frente do prédio ou carregam consigo dvds na bolsa para quando esbarrar com algum Diretor, entregar na mão dele. Eu sei que esse material custa uma grana! E é caro! E acredito que os ATores não estão com dinheiro sobrando também˜ Quantas vezes , nesses meus 18 anos de profissão, esbarrei com envelopes com fotos e dvds com book de atores na mesa da Produção, dos Diretores? Querem saber a verdade sobre o que acontece com esse material? Ele vai de mão em mão, até ficar trancafiado na primeira gaveta que aparecer. E ficará ali para sempre, porquê ninguém vai ver. Se alguma alma caridosa se dispuser a querer ajudar, porquê ficou com pena porquê o Ator gastou dinheiro, vai mandar entregar para o Produtor de elenco. E olha lá! Os únicos Diretores que recebem material, são os autorais, aqueles que fazem filme com pouca grana e não Têm dinheiro para pagar Produtor de Elenco. E Curtas universitários, porquê vai ser de graça mesmo. Não adianta mandar direto para o Diretor. Ele já tem problemas demais pra pensar, roteiro pra decupar, edição para acompanhar, fotos para aprovar! Pioe ainda os que escrevem em anexo aquela cartinha triste, porquê ninguém irá se sensibilizar contigo. Aquela história que ser Ator é seu sonho, é o mesmo sonho de centenas que buscam a mesma cosia: A fama. Porquê é isso o que a maioria quer: ser famoso. Estar com a cara ali na tela, pra todo o mundo comentar. Eu sempre digo que um Ator não deve focar na fama, porquê ela virá mais cedo ou mais tarde, paras os que merecem. Sempre digo para montarem uma peça, um pequeno grupo, vão ali na rua, na praça, se mostrem para um público, de graça, sem ganhar nada. Assim se começa. Quem reclama que nada acontece, é porquê não foca a sua energia de forma certa. Se mostrem para alguém pra ter certeza que é isso o que vocês querem fazer. Busquem editais, produzam coisas próprias. Monte um projeto bacana, que seja interessante e que você, como espectador, gostaria de ver. Quem deve receber o material dos atores, é somente o Produtor de elenco. É ele quem arquiva e aciona o ator quando ele se encaixar em alguma perfil. É ele quem apresenta para um Ator. É ele quem acreditará no Ator, em função do material recebido. Se o seu material fôr ruim, ninguém apostará. Mesma coisa os Agentes: Só irão te receber se eles acreditarem em você. E todo mundo observa quando nem você mesmo acredita em você. Ninguém aposta em algo que está apagado, sem vida. Meu Deus, quantas pessoas já se me procuraram, dizendo que sonham em ser atores? E para boa parte desses, como dizer a verdade, a pura verdade? Nem todo mundo pode ser Ator. Porquê para isso,é preciso que eu veja seus olhos e perceba que eles brilham. Esse brilho somente existe naqueles que levam a profissão a sério. Em qualquer área. Encontre a sua verdade logo, e não perca tempo dando murro em parede. Se fôr pra acreditar em algo, faça acontecer, da forma certa, com muito estudo e entrega. Ser Ator não é brinquedo e nem 100% Alegria. Arrasa!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Bote tesão em tudo

"Faça bem ou faça mal, mas jamais faça de forma entediante". Uma vez um colega ator me comentou sobre o processo de trabalho do Raul Cortez. Quando ele estava em cartaz com alguma peça de teatro, Raul fazia questão de jamais fazer a mesma atuação todos os dias, pois tinha verdadeiro pavor da rotina. Ele trazia então a sua energia do dia para o personagem. Ele vivia "O momento". Se tava com dor de cabeça, trazia pro personagem naquele dia. Se tava com dor de barriga, idem. Uma pedrinha dentro do sapato incomodava? Trazia esse desconforto pra cena. Uma coisa era clara: jamais faria sem energia. Quantas vezes fui assistir peças de teatro, e nitidamente, para mim, espectador, eu sentia que o Ator estava sem energia aquele dia? E não era do personagem. Algo dentro dele dizia: "T6o sem saco hoje". Claro, vários fatores podem influenciar essa "vibe" do ator no palco: casa vazia, público que não reage, ator gripado, discussão com outro ator com quem ele contracena, contas a pagar, salário inexistente, enfim, todos esses fatores externos podem alterar a energia do personagem. Mas o que todos jamais devem esquecer, é que Ator é totalmente diferente do Personagem. O Ator ficou na coxia e não entrou no palco. Quem entrou foi o Personagem, e ele não vive nenhum desses fatores externos. Se o Ator quiser trazer algo para contribuir para o Personagem, que faça como o Raul Cortez: aproveite para estimular e dar mais tesão ainda ao personagem. O contrário, jamais. O Ator em momento algum deve entrar em conflito com o Personagem. "Eu quero paixão, eu quero vísceras! Eu quero ser estimulada. É extremamente solitário- Você quer alguém ali contigo para trabalhar com você. Não quero Diretores que só estão interessados na câmera. Eu quero o Diretor esperando ali, por mim.". Kathy Bates, Atriz. É obrigação de todo Ator buscar uma conversa com o Diretor, quando não estiver se sentindo motivado o suficiente para a cena ou o Personagem. Nenhuma dúvida deve ser levado para o Set de filmagem. Esse período de preparação e de ensaios deve ser muito revelador para o Ator descobrir as suas motivações. Se o Ator fez o dever de casa e dentro de todas as conversas com o Diretor compreendeu todas as passagens do Personagem, ótimo. Mas se algo ficou obscuro, vá atrás de esclarecimentos. Somente entendendo o que você está fazendo e suas motivações você se sentirá estimulado para a cena. Não tem nada mais triste do que observar um Diretor pedir "Ação" e a gente perceber o quanto o Ator está perdido em cena. O Personagem não está ali, ele ficou incompleto. Quem está ali é o Ator, em conflito, pois não conseguiu dar a sua essência para alimentar o Personagem. Isso tem que ficar muito claro: a cena precisa sempre ser estimulante para ambos os lados: Palco e platéia. Quando digo estimulante, não quero dizer que o Ator deva pular em cena e ser dinâmico. Não, é trazer emoção e causar frisson no espectador, mesmo que seja uma cena estática e apenas nos olhares. Mas precisamos ver vida ali. Ator morto, é Personagem morto. ARRASA!!!

terça-feira, 17 de junho de 2014

Não fique na defensiva

Todo mundo que cria algo, precisa estar pronto para receber críticas. Em todas as formas de Arte (Pintura, dança, música, teatro, cinema, literatura) existem críticos profissionais e os não profissionais ( os espectadores) que farão a avaliação da obra. Na vida pessoal, somos também constantemente avaliados por tudo o que fazemos no dia a dia: nosso atos conscientes ou impensados, nosso trabalho profissional, as decisões que tomamos na vida. Robert Redford já dizia: "É através das críticas que me transformo numa pessoa melhor". Mas nem todos pensam assim. Na verdade, boa maioria das pessoas reage muito mal a um simples comentário. Alguns se tornam até agressivos. Para que serve uma crítica, afinal? Como suportar uma crítica negativa ao nosso trabalho? As pessoas costumam se defender dizendo: " Quem é essa pessoa para me criticar?". Essa pessoa é um espectador. Ela pode gostar ou não daquilo que você ofereceu a ela. É um direito dela. Popularmente, é o famoso: "Entrou na chuva é pra se molhar." Mas o que as pessoas devem evitar, e isso irrita qualquer profissional, é ficar na defensiva.Todos erramos, todos podemos produzir coisas que não agradam. Devemos assumir que não somos perfeitos. e devemos assumir que temos que respeitar os comentários feitos ao nosso trabalho. Não fique justificando cada ato falho seu. Se você errou em alguma decisão, ou se você produziu algo que não agradou, tente entender através das críticas o que você deve fazer para superar alguma falha. Não vai ser se defendendo o tempo todo que você aprenderá a ser uma pessoa melhor. Haja sempre profissionalmente, Escute e leia tudo o que falam sobre o seu trabalho. Pegue os defeitos e também as qualidades mencionadas, e foque neles. É assim que estão me vendo. É assim que vêem o meu trabalho. Quero melhorar ou quero continuar assim? Afinal, a decisão final será sempre sua. Mas não fique mais na defensiva. Isso é para os fracos. ARRASA!

sábado, 14 de junho de 2014

Filmando com crianças

Eu amo filmar com crianças Sério. Sei que muitos Assistentes de Direção têm verdadeiro pavor. Mas eu tenho uma criança dentro de mim que se diverte pra valer. Já trabalhei em vários longas tendo crianças como protagonistas, e em outros onde elas não eram os principais, mas tinham papéis fundamentais. "Tainá 1 e 3", "Minha vida de menina", "Professora Maluquinha", "Se puder..dirija", "Minha mãe é uma peça", "Espelho d'água", fora os filmes da Xuxa e do Didi. O meu primeiro contato com crianças em Set foi no filme "Chatô, o Rei do Brasil". Haviam várias crianças no roteiro, e o Diretor queria teste para todos os personagens. Durante o Teste para um dos personagens infantis, me recordo de um fato que nunca mais consegui me esquecer. Uma das crianças, antes do testes, estava toda animada e serelepe fora do estúdio. Sabia sua cena, sabia seu texto. Na hora do teste, a criança simplesmente travou. Não conseguia fazer nada. O Diretor pedia o texto, e ela ficava ali, paradinha, nitidamente assustada. A mãe da criança estava ali, num canto do estúdio, fuzilando a crianca com o olhar. Ela dizia: "Vai filho, diga a fala pro Diretor. Vai, fala!". O Diretor disse: "Minha senhora, para de pressionar a criança. Se ela quiser falar, ela vai falar. Não vai ser assim que ela vai falar". Resultado: a criança não falou, e a mãe em alto e bom som disse pro filho: "Quando chegarmos em casa vou pedir pro seu pai te bater". Todos sabem que mãe de criança que quer ser ator, em sua maioria, são um verdadeiro pavor. Já é famoso o jargão no meio de cinema e tv a frase "Deixa os pais do lado de fora". Hoje em dia, ninguém, mas absolutamente ninguém, permite a presença dos pais durante um teste ou uma gravação, fora exceções. As razões são as mais óbvias possíveis. Nenhum ator pode ser pressionado ou intimidado na hora de sua atuação. Criança então, nem pensar. Uma comparação seria um Ator/Atriz que tivesse, na hora de uma cena de sexo, o seu namorado/namorada acompanhando essa filmagem. Que tal a sensação? Claro, filmar com crianças tem os seus percalços e imprevistos. A criança pode ser um gênio, mas não deixa de ser uma criança. Quando ela estiver cansada, ou com fome, ou quiser mijar, ela vai dizer. Criança não mente que nem os adultos. Elam dizem o que sentem. E se ela estiver cansada, é pertinente dar uma folga pra criança. Filmar uma outra cena até ela descansar um pouco, se não pode te prejudicar mais lá na frente. Em uma filmagem de um filme da Xuxa, tínhamos muitas crianças na figuração. E como criança come! Chegou uma hora que os biscoitos e lanches acabaram, e a produção mandou providenciar mais. Porém, demorou um pouco, e qual não foi a nossa surpresa quando bateu a fiscalização no Set: uma das mães havia acionado o Sindicato pois disse que seu filho estava com fome e não havia comido. O Set parou até que chegasse a comida. Olha só que loucura: todas as crianças tinham comido, só que algumas comem mais que as outras, e criança adora comer! A mãe ao invés de conversar com alguém da produção, resolveu agir da forma mais radical possível. Quanto ao fato de deixar a crianca mijar, a minha visão sobre esse assunto mudou após assistir ao filme "Magnólia" de Paul Thomas Anderson. Um dos personagens era uma criança super dotada: era um gênio com Q.I Altíssimo, e seu pai resolveu levá-lo para um estúdio de um programa de tv ao vivo, para que o filho participasse de um quizz. Era certo que o menino iria ganhar, o pai todo confiante. Porém, minutos antes de entrar no Ar, o menino pede para a assistente de produção para fazer xixi. A moça não deixa. Ele implora. Ela diz que não. Resultado: o menino não acerta nenhuma pergunta e seu pai fica puto com ele. Desde esse filme então, qualquer ator, seja criança ou adulto, que me pede para ir ao banheiro antes de filmar uma cena, eu deixo. Ninguém pode se concentrar com outra informação na cabeça, não é mesmo? É uma delícia ensaiar e passar o roteiro com crianças. A gente estimula a imaginação, a criatividade. Mas às vezes percebo que alguns coachs ( sim, muitos Diretores não têm paciência com crianças e contratam coachs infantis para trabalharem as cenas) tratam as crianças como verdadeiros débeis mentais. Pode ser loucura minha, mas acredito que não se deve infantilizar esse processo de trabalho com o ator mirim. Ele é um ator, e pronto. Deve ser trabalhado da mesma forma que um adulto. A criança deve entender que ela está dentro de um projeto, de um processo criativo que exigirá a atenção, de dedicação e profissionalismo da parte dela. Hora de brincar é hora de brincar, hora de trabalhar é hora de trabalhar. e ponto final. Se ela não entender isso, ela não poderá trabalhar. Não se deve jamais chantagear uma criança com prêmios (chocolates, viagens, brinquedos) em troca dela fazer uma cena. A não ser que trabalhemos com crianças amadoras, ou figurantes, dai é diferente, pois ela não entrou no processo do filme. Durante a filmagem do longa "O dia da caça", tinha uma cena que uma criança indígena tinha que correr dentro de um barco em direção à câmera. Não tinha cristão que fizesse ela vir. Ela simpelsmente ficou ali, paradinha. Quando o Diretor j;a tinha torrado a paciência, o produtor de elenco, Luppi Pinheiro, chegou nos ouvidinhos da criança, falou algo. Daí ele disse: "Podem pedir "ação". No "Ação", a criança veio e fez bonitinha a cena. Todos perguntaram o que ele havia dito. Luppi respondeu: "Prometi um chocolate para ela". Todos riram. Ah, essas crianças.... Em outro Post falarei sobre crianças que...cresceram. ARRASA!

terça-feira, 10 de junho de 2014

A primeira vez- Crônicas de um Set

Você passou 4 anos fazendo uma Faculdade de interpretação. Fez inúmeros workshops. Cursos de interpretação voltado para a câmera. Participou de curtas de estudantes universitários. Fez até figuração para ver como funciona um Set de filmagem. Daí um dia alguém te convida para participar de uma cena em uma novela ou em um filme profissional. Você ou foi visto no curta da faculdade e alguém gostou de sua performance, ou te indicaram direto porquê acharam você a cara do personagem. Ou porquê simplesmente você era amigo de alguém da Equipe ou do Elenco e te chamaram direto. Você exulta, fica feliz, dá a boa notícia para todo mundo. E vai esperando o dia da filmagem/gravação chegar. Você vai ficando tenso. Pede para algum amigo te ajudar a bater o texto ( Mesmo que só tenha 2 falas, mas você quer bater o texto). Fica tão tenso que resolve contratar aquele coach que está na moda. Na véspera de filmagem você nem dorme direito. Ninguém te ligou para dar o horário da filmagem do dia seguinte. Você pira, acha que desistiram de você. Aí o telefone liga tarde da noite. O Assistente de Direção ou de produção te perguntam se você tem como ir por conta própria porquê não tem carro pra te pegar. Você diz que não tem. Daí te sugerem você pegar um táxi e te reembolsam quando chegar no set. Mas atenção: Não esquecer de pegar o recibo do táxi. Se for em televisão, você terá que se virar sozinho pra chegar lá, e ninguém te reembolsa nada. Aí finalmente chega o dia da filmagem. Você não quer pagar mico de chegar atrasado, pois um de seus professores disse que pontualidade é fundamental. Você resolve sair 2 horas antes de sua casa. Só que não esperava que o trânsito aquele dia você estar uma merda. Fica tenso. Muito tenso. O tempo vai passando. O celular toca, o Assistente de direção/produção perguntam aonde você está. Você mente e diz que em meia hora está chegando. Mas está a pelo menos 1 hora de distância ainda. Telefone toca, e toca, e toca, e cada vez o Assistente vai ficando mais furioso, e te deixando mais tenso. "Está quase na hora de sua cena, faltam 2 cenas antes da sua!". Nessa hora você quer morrer. Pensa que sua carreira irá pro caralho, que nunca mais irão te chamar. Porquê o seu professor lhe disse que quem atrasa entra em lista negra. Mas os Deuses do Cinema/Tv estão do seu lado e você chega a tempo: esbaforido, suado, mas muito nervoso. Ninguém conhece você. Você chega no set, é um corre corre fudido. Ninguém olha pra sua cara. Estão todos tensos querendo fazer o Set acontecer. Você fica meio sem graça de chamar alguém, pois estão todos ocupados. Daí você vê aquela pessoa do Set que parece não estar fazendo nada. Chega até ele e pergunta: "Por favor, onde posso encontrar o fulano?". A pessoa pede para você esperar um minuto, e chama pelo rádio: "Fulano, tem alguém aqui na boca do set te procurando". Passa um tempo, vem alguém correndo em sua direção: "Porra, ainda bem. Já íamos fazer a cena sem você. O Diretor ia mudar a cena!".Você ouve aquilo querendo morrer. O Assistente faz você correr até o camarim. Você chega lá, tá lotado de gente. Tem maquiadores, cabeleireiros, figurinista, camareiros, outros atores, assistente de direção, uma zona total. Todo mundo correndo de um lado pro outro. Todos falando alto. Você achava que camarim era silencioso e se enganou: não tem como se concentrar e passar texto ali. O Assistente te apresenta pra equipe. "Qual o seu personagem", te perguntam. "Ah, meu personagem é o homem que entra em cena e entrega um recado para o Protagonista.". Daí te falam, "Ah, seu personagem então é o Homem do recado". Te vestem, te maquiam, tiram o brilho do suor, escondem sua espinha. Daí o maquiador fala: "Vem cá, não dormiu direito ontem não? Tá difíicil de tirar essa sua olheira". E você vai ficar assim mesmo, com olheira nos olhos. Tudo aquilo que você vivenciou no curta da galera da faculdade, você vai começando a comparar com o Set que está agora. "Gente, mas é muito diferente". No meio dessa confusão toda, o Assistente trará um contrato para você assinar, afinal se você gravar sem assinar, quem te impedirá de você processar a empresa e ganhar uma grana boa, não é mesmo? Por isso ninguém dá mole. Você vê aquela camareira carregando um peso enorme, você se levanta para querer ajudá-la ( lembrou que no curta te disseram que todo mundo se ajuda) e daí você leva um fora: "Olha o Sindicato!". E daí você entende que no Mercado profissional, cada um faz o seu. Por isso as pessoas são contratadas. O tempo passa, e você percebeu que o Assistente de direção/Produção te enganou. Afinal, se estavam quase prontos pra sua cena, porquê já se passaram quase 2 horas e ninguém te chamou ainda pra gravar? Daí você lembra que o Professor te disse ( qual deles mesmo?) que enquanto estiver esperando, vai repassando suas falas, decora, de frente pra trás, de trás pra frente. E você vai repassando muitas, muitas vezes, para não correr o risco de pagar mico na hora. Daí o Assistente de direção/produção finalmente te chama. "Vamos, é sua vez". Você está com o coração na boca, literalmente. Vai caminhando pelos corredores, suando frio. Por fora, sorrindo para todos. Por dentro, quase tendo um treco de tão nervoso que você está. E ai você chega no Set. Está todo mundo já a postos. Luz pronta, câmera na posição. O assistente te apresenta pro Diretor, que mal olha pra você e pergunta de imediato: "Decorou sua fala? Ótimo, sua marca é essa. Você entra em cena no momento que o protagonista disser a fala tal. Chega, dá a fala e vai embora.Entendido?" "Você esta tão tenso com aquilo tudo, que só consegue dizer 'Sim". Estão todos aguardando o protagonista chegar. Sim, você que faz a participação obviamente vai chegar antes do protagonista no set. A equipe está relaxada, aguardando ele chegar. Quando ele chega é aquele furor. Todo mundo se posiciona. O Diretor chega pro Ator e faz a mesma coisa que você: passa as marcas para ele. Te apresentam pro Ator, dizendo que você é o cara que vai chegar em cena e dar o recado. Você acha que está louco, mas pareceu aos seus olhos que o Ator nem olhou direito para você. Mas deve ter sido impressão, ninguém é assim com o colega de cena, Afinal, seu professor disse que todo Ator compartilha o olhar com o colega de cena. Para sua surpresa, o Diretor pergunta pro Ator: "Você quer rodar direto E o Ator diz "Sim, vamos rodar direto". Essa é a hora que você literalmente, vai morrer. Que acha que nunca mais te chamarão para trabalhar. Que vai pagar mico. Porquê sempre te disseram que rola pelo menos um ensaio. Sempre te disseram que o Diretor vai te explicar direitinho a cena, o seu personagem, a sua motivação. Que vai haver uma interação entre colegas de cena. Que irão dar uma passada pra equipe de câmera e fotógrafo. E quem sabe, irão querer improvisar? Você passou anos estudando Stanislawsky, Tchekcov, estudou vários métodos, improvisos, Etc etc etc..mas agora, nesse momento, sua cabeça pirou, e você nem sabe o que fazer com tudo isso. "Meu Deus, e agora? Nunca me ensinaram a fazer uma cena de participação. Sempre busquei tudo no Personagem, e agora, sou obrigado a esvaziar tudo". Daí, graças a Deus você é uma pessoa esperta, você rapidinho vai entender que tem horas que a participação é apenas uma participação. Não existe essa de construção de personagem. Você é apenas o cara que entra dando um recado. Entra e sai, e acabou. Nem nome você tem. Na sua vida profissional, em inicio de carreira, você vai ser o Homem 1, o Homem 2, o Homem que grita, o Homem choroso, O Homem nervoso..todos sem nome. Todos sem identidade. Só existem ali para dar uma fala. Sem background. Sem Psiques. Sem métodos. Apenas fazer o seu, simples, direto, texto decorado, para trocar com o protagonista da cena. Entendido tudo isso, você vai respirar fundo, vai se concentrar, vai relembrar mentalmente o seu texto, a marca do diretor, vai criar segurança em você. Vai se lembrar que algum Professor lhe disse que sentir medo faz parte e é isso que o deixa vivo. Você aguarda sua marca, entra, dá o texto, simples e seguro, e vai embora. O Diretor diz "Corta, vamos pra próxima cena". Dependendo do tempo, pode ser que o Diretor e o Ator lhe agradeçam antes de você ir embora. Mas como vc foi educado para sempre agradecer a oportunidade dada, você vai se encaminhar a eles e agradecerá. Depois disso, você volta pro camarim, se desproduz, as pessoas continuam não sabendo direto o seu nome. Mas tudo bem, você fez o seu, não pagou mico. A sua maior preocupação agora será: "Como vou voltar pra casa?"" Fim! ARRASA!!!

sábado, 7 de junho de 2014

As várias mortes de um Ator

Sempre achei um previlégio essa arte de ser ator. Poder dar vida a vários personagens. Dia desses estava assistindo a um filme mexicano, e me surpreendo que no final, a protagonista morre, assim, do nada, sem aviso prévio. Foi uma pegadinha do roteiro do filme. Quando você acha que tudo vai bem, que todas as relações familiares finalmente se encaixaram, e que as pessoas merecem sim, ser felizes...Deus ( o roteirista), resolve matar aquela pessoa que você tanto aprendeu a amar. Mas a vida é assim também, nos pega sempre de surpresa. Voltando ao Ator: somente ele, e mais ninguém, pode antecipar a sensação da morte. Poder morrer em seus vários personagens, experimentar o fim de sua existência. De onde o Ator tira essa memória emotiva, esse background que faça com que ele experimente simplesmente acabar com tudo? Será que basta prender a respiração? Fechar os olhos? Sentir dôr? Dar tremeliques com o corpo? Pois é assim que normalmente eu vejo nos filmes quando algum personagem morre. Nesse filme mexicano em questão, a personagem simplesmente, do nada, perde suas forças, abaixa o braço e fecha os olhos. Fico imaginando o Diretor falando antes da cena: "Quando você olhar o horizonte, olhar para aquele sol, feche os seus olhos e morra." Ou ele poderia dizer também: " Você está abraçado à pessoa que você mais ama nesse mundo. Você vai olhar para ele, vai se lembrar de um momento maravilhoso que você compartilhou com ele. Vai olhar para o horizonte e vai pensar : "Eu fui feliz. Estou pronto para seguir meu caminho de luz.". Fiz uma reflexão sobre todos os roteiros e filmes que escrevi e dirigi, e qual não foi a minha surpresa ao constatar que, inconscientemente, o tema da "morte" está presente em todas as obras. Em maior e menor grau mas a ausência de uma pessoa na vida de outra é uma constante em tudo o que crio. Será isso uma terapia para mim mesmo? Para eu aprender a me despedir das pessoas que amo? Não sei explicar. Mas os meus personagens, através das performances incríveis dos atores que lhe deram vida, sofreram essa consequência da morte de alguém muito próximo. Não sou sádico a ponto de querer que todos os meus personagens experimentem a morte. Mas quem sabe, eu queira explorar o talento de algum ator? Rir é fácil, chorar é fácil, ficar triste é fácil. Assim comecei essa crônica de hoje: Como pedir para algum ator interpretar o fim de sua existência? Sem ser mecânico, fechando apenas os olhos e parando de respirar e mexer o corpo? Em "Pietro", o personagem, um senhor aposentado, vive sozinho com o seu cachorro. Todas as suas atividades são acompanhadas pelo amigo inseparável. Até que o cachorro morre, dormindo. Na minha linguagem cinematográfica, até a morte do cachorro, eu não via o rosto do Ator. Era sempre desfocado. sem rosto. O foco era no cachorro. A primeira vez que vemos no filme o close do ator em sua plenitude, é quando ele reage à morte do cachorro. Esse foi o momento mais emocionante para mim na filmagem, e o de maior desafio para dirigir o ator. Pedi ao Personagem para pensar que a sua vida a partir daquele momento perdeu a razão de existir. Ele não tinha mais ninguém, e o seu único companheiro se foi. Não tinha mais a quem dar comida, a quem dar banho. Sua motivação para ir para a rua era passear com o bicho. Sem essas atividades, e sem ter a quem compartilhar o seu amor, de que vale a pena viver? Foi muito melhor do que simplesmente dizer ao ator: "Você está sofrendo muito". Para um outro ator de um outro filme , eu disse, entre outras coisas: "Pense em todas as pessoas que você está deixando. Pense em todos os projetos de vida que você não irá cumprir. Pense na família que você não irá formar. Pense nas cosias que você quer fazer na vida e não poderá mais fazer. Aquela viagem que você armou para Londres. E principalmente, pense na sua mãe, que você jamais dirá a ela o quanto você a ama". Isso porquê o personagem encontrava uma morte inesperada, e ele não queria morrer. Li no livro de Fátima Toledo, onde ela relata historias de bastidores dos filmes em que trabalhou, uma relação muito interessante dela com uma atriz. No filme "A casa de Alice", ela tinha que preparar a atriz Bertha Zemmel. A personagem era uma senhora que morava com sua filha, seu genro, e seus 3 netos. Todos problemáticos e sem comunicação um com o outro. A personagem da Bertha se sentia uma velha deslocada, e não tinha mais razão para viver. Fátima sentia que a a atriz não chegava na emoção certa. Até que resolveu ir mais na fundo na alma da personagem. Chegou para a atriz e disse, de uma forma categórica, que ela ja tinha idade e que não iria viver mais tanto tempo. A atriz entendeu, e sofreu. Mas disse jamais querer passar por esse processo do Método, porquê ela ficou muito mal com essa experiência. Cada Ator deve entender a sua forma de chegar em uma sensação. Descobrir o seu método. Podemos aceitar melhor a morte quando temos certeza de que, como Artistas, estamos deixando um legado de amor e coisas que fizemos em vida que trouxe felicidade para as pessoas, seja através de experiência que passamos adiante ou de frutos do nosso trabalho. ARRASA!

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Otimize seu tempo e energia no set

"Cinema é a Arte da espera" Nada mais irritante para um profissional de Cinema (Assistente de direção, maquiador, figurinista, produção) do que ter um Ator no set enchendo o saco o tempo todo por questões mínimas. É comum o Diretor se surpreender quando alguém o confidencia sobre o comportamento de um Ator: "Jura? Mas sempre me dei bem com ele, é maravilhoso. Não acredito nisso."" Bom, os Atores espertos são os que dão ataque nos bastidores e quando estão de frente para os Diretores, agem como se fossem os mais santos do universo. Nossa, já vi muita gente destratando maquiador, camareiro, assistente de produção, assistente de direção. Mas qual os motivos de tanta irritação? Posso enumerar alguns que sempre presencio: - Estão esperando a 2 horas e nada acontece e que poderiam ter chegado mais tarde - O café está ruim - O Camarim não tem ar condicionado ( como, filmando numa comunidade??. Tem ventilador, mas acham ruim porquê o cabelo balança) - A maquiagem é de uma marca que não gostam - A comida do set não tem nada para vegetarianos - Tiveram que dividir carro com outros atores e daí acordarem mais cedo ainda - Acham o roteiro uma droga mas confidenciam isso apenas pro assistente de direção, que não tem nada a ver com isso - São obrigados a decorar 10 páginas de texto porquê estão trabalhando numa série sem muita grana e dai tem que filmar tudo em poucas semanas - Não tem tempo para descansar, muito menos para decorar texto, pois passam 12 horas no set, 1:30 para ir e outra para chegar em casa. - Dividiu carro para ir embora com figurantes - O maquiador chefe está maquiando outra atriz e ela ficou sendo maquiada pelo assistente de maquiagem - A outra atriz tem camarim próprio!!!! - Muita gente no camarim e ela está se sentindo uma qualquer Seja lá qual for o motivo, se estão certos ou não, lembrem-se que muita dor de cabeça pode ser resolvida ainda na fase do contrato. Se uma atriz pediu um camarim próprio, está no contrato dela. Se algum ator tem carro próprio, está no contrato dele. Então, peçam para o seu agente negociar direito com a produção do filme. Pois reclamar depois não adianta, e os profissionais não têm que ficar uvindo tanta ladainha, porquê todo mundo já tem problema demais para resolver. Aliás, parem para observar a sua volta: Ninguém está parado. Toda a equipe está correndo de um lado pro outro, porquê tem um cronograma apertado para cumprir. Precisam iluminar, precisam montar cenário, precisam marcar figuração, montar equipamento. Todos em prol do memso filme. Todo mundo carregando peso, pegando sol à pino, às vezes chuva, para deixar a cena de acordo com o desejo do Diretor. Penso que nenhum Assistente de direção ou produção quer sacanear o Ator, mesmo porquê ninguém quer uma pessoa reclamando no seu ouvido o tempo todo. Se marcaram o Ator num determinado horário, mas depois de horas ele ainda não filmou, não foi por culpa de ninguém. Acontecem muitas coisas ao longo do dia: a câmera dá defeito, a grua dá defeito, o sol não aparece, chove, outros atores erram texto, a locação dá problema, o almoço não ficou pronto, etc etc etc Todos nós em Cinema, até o momento, trabalhamos 12 horas por dia, às vezes descontando deslocamentos. Desconta-se também 1 hora de almoço, 15 minutos de café e um tempo da desprodução, em média 1 hora. O meu conselho: Levem livros pro Set. Aquele livro que você ganhou e sempre reclamou que não tinha tempo para ler. Eu mesmo já li vários livros que ganhei dentro de ônibus. É uma maravilha, você se despreende de trânsito, de encheção de saco e se mergulha em cultura. Quer algo melhor? Leia livro enquanto espera, ao invés de gastar energia em reclamações. Isso afetará sua performance. Uma vez, uma atriz reclamava tanto de esperar 1 hora, que quando foi filmar, era evidente, pelo menos para mim, a raiva dela na personagem, uma energia que ela nem deveria ter usado. Ela não conseguiu separar a energia da atriz irritada da energia da personagem que estava tranquila. Concluindo: Ninguém é obrigado a aceitar trabalhos. Tanta gente querendo trabalhar e dedicar ao máximo de si... ARRASA!

terça-feira, 3 de junho de 2014

Vá ao Cinema

A melhor resposta da semana, uma amiga professora de cinema me contou hoje, morri! Aluno: "Professora, como faço para entrar no Cinema?" Professora: " Só ir ate a bilheteria e comprar um ingresso". Risadas à parte, foi uma resposta da professora para o aluno que havia dito a ela que raramente ia ao cinema ver filmes. Não existe amor a uma Arte sem empenho!

A maquiagem como ferramenta

Para dar vida a um Personagem, o Ator tem à sua disposição duas ferramentas fundamentais. Uma interna, que é a sua intuição, a sua memória, o seu background, a sua técnica. A outra, é o uso de elementos externos, que ajudarão a compôr o visual do personagem e assim, dar estofo e embalagem ao emocional. Através de maquiagem e figurino, o personagem virá pleno e para a maioria dos espectadores, é ali onde ele começará a acreditar no que está sendo lhe proposto. A diferença entre Ator X Personagem ficará mais evidente. Quando falamos em "maquiagem", a primeira reação das pessoas é pensar em "Beleza". Devemos alterar esse pensamento para "transformação". A maquiagem fará de você um personagem de época, fará você um idoso, um jovem, um ser alienígena, mudará sua raça ( lembram-se de Griffith em "Nascimento de uma nação" ? O elenco negro eram atores brancos pintados, uma polêmica ), mudará seu sexo. O bom Ator é aquele que entende que o trabalho de um Profissional de maquiagem exige respeito. Quando o Ator se senta na cadeira de maquiagem, ao invés de reclamar como boa parte reclama, deve, ao contrário, se concentrar e entender que o processo de mudança AtorX Personagem começará ali. Quando chega em um set de filmagem, após o café da manhã, é na Maquiagem que o Ator terá seu primeiro momento de desprendimento com ele mesmo. O Personagem começa a dar forma. Não à tôa, vários atores repassam seu texto sentados na cadeira, ou fica concentrados, ouvindo música que lhe traga o momento emocional do dia. É ali também, no camarim de maquiagem, que normalmente os Diretores dão bom dia ao seu elenco e dão as primeiras instruções das cenas a serem filmadas. Sem esforçar muito a nossa mente, lembremos que muitos prêmios de atuação vieram de um conjunto de trabalho que uniu essas ferramentas internas e externas: Charlize Theron em "Monster", "Marion Cotillard em "Piaf", Philip Seymour Hoffman em "Capote", Tom Hanks em "Filadélfia", Daniel Day Lewis em "Lincoln", Meryl Streep em 'A dama de ferro", Jared Leto e Mathew Macnaughney, ambos em "Dallas buyers Club". Quando lembramos desses filmes, a primeira visão e pensamento que temos é : "Caraca, a maquiagem dele estava foda!". Quando estamos fazendo Casting para um filme, dependendo do projeto, o Diretor observa além da performance, o externo do ator: se ele tem tatuagem, cicatriz, etc. Já presenciei muitos atores sendo dispensados de uma seleção por conta de tatuagens. Mas aí o Ator se defende: "Mas existem produtos de maquiagem que escondem a tatuagem!". Querido, querida, podem ter certeza: Se o Diretor não tiver muita, mas muita certeza de que quer você, porquê você o surpreendeu no teste ou porquê você é um puta ator, ninguém vai querer passar mais de 1 hora esperando o ator sentado na cadeira de maquiagem para camuflar sua tatuagem. O Maquiador detona, o Assistente de direção detona. Coisas que todos odeiam em um ator: - Tatuagem - Pele queimada de sol - Cabelos pintados que tiram a naturalidade do ator Esses dias, fiz um teste de elenco e apresentamos pro Diretor, editado. Tinham 2 excelentes atrizes que fizeram o teste. Mas as duas tinham cabelos tingidos de cores tão intensas, que você só olhava pro cabelo delas. Assim que chegou a vez delas na edição, o diretor disse: " não consigo enxergar a personagem com uma atriz com um cabelo desses. Próxima!" Retruquei, dizendo que o teste das duas era ótimo, mas enfim, nem todo o Diretor quer quebrar a cabeça vendo a atuação de alguém que de cara ele já não gostou. Em 2003 eu trabalhei em um filme da Xuxa e ali foi um dos meus primeiros contatos com o HD substituindo a película. usamos a câmera F900, a mesma usada na trilogia de 'Star Wars". Para todo mundo da técnica, e principalmente para a maquiagem, foi um grande desafio. A alta definição do HD faz com que você veja na tela até mesmo uma pequena fissura numa parede de cenário. para a maquiagem, era um desastre, pois se via a maquiagem usada na pele do Ator. Esse foi o início de um aprendizado tanto para a técnica, quanto para o ator. Para as atrizes que colocavam Botox ou faziam plásticas, era o inicio de uma derrocada. Tudo isso "gritava" na tela. Foi preciso então se utilizar de filtros especiais e luzes próprias para "esmainecer" os efeitos de um ator que simplesmente não agradava ao ser olhado na tela. Nunca se olhou tanto para o rosto de um ator no video-assist quanto no advento do HD. "Olha essa olheira", "Olha esse botox", "Olha essa marca de plástica", "olha essa ruga", "olha essa cicatriz". Ainda bem que os atores não ficam no video-assist, senão seria uma depressão só e com certeza muitas sessões de terapia. Mas atenção: não adianta o Fotógrafo colocar a luz mais estourada ou soft para suavizar aquela olheira, aquela ruga; o maquiador quebrar a cabeça pensando em como melhorar a aparência do ator, se ele não se disciplinar. O que é importante: - Não pegar sol em demasia - Não esquecer de passar protetor solar ( principalmente se você estiver em continuidade, evitando que você fique vermelho ou se descasque) - Dormir bem ( para evitar olheiras e cara inchada) - Não se exceder em bebidas alcóolicas ( deixa sua pele inchada) - Nào fumar demais ( deixa sua pele sem viço e grossa) - Cuidar sempre bem de sua pele, devido ao excesso de maquiagem usada todos os dias Para finalizar, uma pequena história de bastidores que aconteceu no 1o filme que trabalhei como estagiário , "O que é isso, companheiro". Estávamos filmando no estúdio da Ponto Filmes, e tínhamos muitas cenas para filmar. Uma das atrizes, cansada de esperar sua cena, aproveitou para dormir. Todo mundo viu, mas deixamos ela ali descansando. No nosso entendimento, era uma forma da atriz ficar tranquila e parar de reclamar que estava esperando muito. Daí, o 1o ass de direção chegou pra mim e falou, horas depois: "chama a fulana, a próxima cena é com ela." Quando fui acordar, levei um choque: a atriz, que dormiu vestida e maquiada pro personagem, acordou com a cara inchada! A maquiadora fez de tudo para diminuir o inchaço: colocou gêlo, botou mais maquiagem. Assim que a a triz chegou no set, o diretor viu e gritou na mesma hora: "Quem foi o filho da puta que deixou a atriz dormir e acordar com essa cara inchada? Não posso filmar ela assim!". Paramos cerca de meia hora a filmagem para que a maquiadora desesperada fizesse de tudo par desinchar a cara da danada. ARRASA!!! Obs: de brinde, o video com créditos finais de : A viagem", um filme brilhante com um trabalho excepcional de maquiagem.