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quinta-feira, 19 de junho de 2014

Bote tesão em tudo

"Faça bem ou faça mal, mas jamais faça de forma entediante". Uma vez um colega ator me comentou sobre o processo de trabalho do Raul Cortez. Quando ele estava em cartaz com alguma peça de teatro, Raul fazia questão de jamais fazer a mesma atuação todos os dias, pois tinha verdadeiro pavor da rotina. Ele trazia então a sua energia do dia para o personagem. Ele vivia "O momento". Se tava com dor de cabeça, trazia pro personagem naquele dia. Se tava com dor de barriga, idem. Uma pedrinha dentro do sapato incomodava? Trazia esse desconforto pra cena. Uma coisa era clara: jamais faria sem energia. Quantas vezes fui assistir peças de teatro, e nitidamente, para mim, espectador, eu sentia que o Ator estava sem energia aquele dia? E não era do personagem. Algo dentro dele dizia: "T6o sem saco hoje". Claro, vários fatores podem influenciar essa "vibe" do ator no palco: casa vazia, público que não reage, ator gripado, discussão com outro ator com quem ele contracena, contas a pagar, salário inexistente, enfim, todos esses fatores externos podem alterar a energia do personagem. Mas o que todos jamais devem esquecer, é que Ator é totalmente diferente do Personagem. O Ator ficou na coxia e não entrou no palco. Quem entrou foi o Personagem, e ele não vive nenhum desses fatores externos. Se o Ator quiser trazer algo para contribuir para o Personagem, que faça como o Raul Cortez: aproveite para estimular e dar mais tesão ainda ao personagem. O contrário, jamais. O Ator em momento algum deve entrar em conflito com o Personagem. "Eu quero paixão, eu quero vísceras! Eu quero ser estimulada. É extremamente solitário- Você quer alguém ali contigo para trabalhar com você. Não quero Diretores que só estão interessados na câmera. Eu quero o Diretor esperando ali, por mim.". Kathy Bates, Atriz. É obrigação de todo Ator buscar uma conversa com o Diretor, quando não estiver se sentindo motivado o suficiente para a cena ou o Personagem. Nenhuma dúvida deve ser levado para o Set de filmagem. Esse período de preparação e de ensaios deve ser muito revelador para o Ator descobrir as suas motivações. Se o Ator fez o dever de casa e dentro de todas as conversas com o Diretor compreendeu todas as passagens do Personagem, ótimo. Mas se algo ficou obscuro, vá atrás de esclarecimentos. Somente entendendo o que você está fazendo e suas motivações você se sentirá estimulado para a cena. Não tem nada mais triste do que observar um Diretor pedir "Ação" e a gente perceber o quanto o Ator está perdido em cena. O Personagem não está ali, ele ficou incompleto. Quem está ali é o Ator, em conflito, pois não conseguiu dar a sua essência para alimentar o Personagem. Isso tem que ficar muito claro: a cena precisa sempre ser estimulante para ambos os lados: Palco e platéia. Quando digo estimulante, não quero dizer que o Ator deva pular em cena e ser dinâmico. Não, é trazer emoção e causar frisson no espectador, mesmo que seja uma cena estática e apenas nos olhares. Mas precisamos ver vida ali. Ator morto, é Personagem morto. ARRASA!!!

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