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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A nudez em cena

"Está ficando muito tarde em minha carreira para me preocupar com coisas pequenas. Está ficando muito tarde para não me tornar uma pessoa corajosa, de não viver minha vida por completo, de não me tornar uma Artista. Coisas triviais como o quão bom será o seu quarto de hotel, ou se você tem que ficar nua em cena, essas cosias desaparecem." Helen Hunt, Atriz ( Ficou totalmente nua em cena no filme "As sessões", aos 47 anos de idade. Já trabalhei em muitos projetos e sei do que estou falando: nada apavora mais um Ator do que descobrir que terá que tirar a roupa em cena. E eu fico sempre pensando comigo mesmo: Será que nos cursos de interpretação, não existe um módulo onde o Ator trabalha a nudez, onde o Professor faça o Aluno entender que a nudez faz parte do trabalho do Ator? O Ator vive de sua imagem, e seu instrumento principal é o seu corpo e voz. E não é voyeurismo nem fetiche da minha parte, mas eu como Cinéfilo admiro muito a nudez em cena. Recentemente tivemos um filme inglês chamado 'Sob a pele", com Scarlett Johanson. Scarlett todos sabem, é símbolo sexual. Ela já trabalhou a sua sensualidade em dezenas de filmes. Porém, em "Sob a pele", pela primeira vez, ela se expôs totalmente nua. A cena é de uma beleza estonteante. As pessoas podem até não gostar do filme, por ser hermético ou bizarro demais para seu gosto, mas ninguém passa incólume à nudez em cena de Scarlett. Outro exemplo foi Wagner Moura em "Praia do futuro". No filme de Karin ( Cineasta que admiro muito e que expõe a nudez de seus atores sempre de forma bela e espontânea, vide "O céu de Suely"), Wagner fica totalmente nu. Em uma cena, após uma transa, ele se levanta nú e conversa com o seu parceiro de forma natural, como é a vida de um casal que se ama. Sem cueca, sem lençóis cobrindo parte íntima nem nada. Para o espectador, fica a verdade da cena, fica a verdade dos personagens. Não tem um Ator que não tente demover a idéia da nudez com o seu Diretor: "Mas é mesmo necessário? Não podemos filmar de outra forma sem eu ter que tirar a roupa?" Não estamos mais nos anos 40, na época do Macartismo americano, quando todos os casais que transavam tinham que estar com lençóis cobrindo seus corpos até o pescoço. Isso não existe. Quando eu vejo um filme com atores transando de lençol, penso logo em uma situação falsa, penso logo que o Ator não quis se expôr, penso logo em caretice. Não sou nenhum tarado, muito menos um pervertido. Mas é cruel ficar vendo Diretores tentando convencer os Atores a tirarem a roupa em cena. A sensação que me dá é que estamos "Estuprando" esses atores, pois eles ficam tão apavorados, e muito pouco a vontade. E não deveria ser assim. Nudez tem que ser encarada pelos Atores como algo natural. Já trabalhei com Diretores que, sem paciência com seus atores e para motivá-los, tiram as suas próprias roupas e andam nús no Set. "Se eu tiro, porquê você não tira? " O que eu sempre falo para os atores: Confiem em seu Diretor. Nenhum Diretor vai querer expôr o seu Ator de forma gratuita ou desglamurizada. Em cenas de sexo, geralmente as imagens são trabalhadas de forma estilizada, com uso de fotografia especial, câmera lenta ou o que quer que seja. Obviamente que existem projetos e projetos, mas o Ator inteligente saberá quando ele está entregue em boas mãos e em um projeto de qualidade. Nas minhas aulas, observo que a maior inimiga da nudez para o Ator é a vaidade. É o temor da celulite exposta, da estria, dos kilos a mais, do seio caído, da bunda flácida, do pau pequeno. O que eu sempre faço os alunos entenderem, é que existe uma diferença entre Ator e Personagem, algo que ainda não é claro para muita gente. Se o Personagem não é vaidoso, o Ator não pode entrar em cena e provocar conflito. A Atriz Maria Gladys é um ícone para mim. Musa do Cinema nacional, no filme "A febre do rato", de Claudio Assis, ela aparece totalmente nua e transando dentro de uma tina com Irandhir Santos. É uma cena louca, mas visceral. Uma cena de grandes atores. Gladys, aos 60 anos, entende que a Personagem precisa dessa vivência provocativa. É isso que alimenta o verdadeiro Ator. A provocação. # arraZa

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