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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Turning Point: o momento da virada

Na vida, somos constantemente confrontados com momentos de indecisão e que nos fazem refletir sobre qual caminho devemos prosseguir. Muitas vezes, essa indecisão vem associada à insatisfação, ao desprazer, a uma vida regrada à rotina. A gente passa a vida toda, desde jovens, ouvindo a sentença fatídica: "Só se vive uma única vez". Crenças religiosas à parte, é uma realidade. Mas existe um momento específico na nossa vida, onde uma decisão transformará para sempre a nossa trajetória. É uma ruptura com o que você estava vivendo até então. É agora ou nunca. É tudo ou nada. O meu pai, chinês, em 1970, resolveu abandonar seu País de origem e vir se aventurar no Brasil, em busca de uma vida nova. Hoje ele tem 98 anos, na época ele tinha mais de 50 anos. Ou seja, aos 50 anos de idade, meu pai decidiu vir com esposa e 3 filhos pequenos para um País onde ele desconhecia a língua, cultura e não fazia idéia do que iria encontrar pela frente. Mas veio. Fez o seu "Turning point". Provavelmente, se ele tivesse continuado a viver em Taiwan, eu não estaria trabalhando com Cinema. Talvez eu não fosse uma pessoa feliz, talvez eu não tivesse assistido aos milhares de filmes que vi na vida. São respostas que jamais terei. Muitas pessoas me perguntam o que elas devem fazer para serem Atores. A maioria quer ser Ator em menos de 1 ano de aprendizado. Digo que não rola, que SER ATOR é uma profissão, que nem ser médico, advogado, engenheiro. Você precisa fazer um curso, uma faculdade, que leva uns 3, 4 anos. Tirar Drt, ler muitos livros, encenar muitas peças. Muitos desistem e ficam tristes quando eu dou essa resposta. Não sei porquê, esperavam que eu respondesse que basta fazer um curso livre desses de 6 meses e que logo tirariam seu DRT e estariam bombando no mercado. Pelo menos esses cursos vendem esse sonho. Outros aspirantes a Atores me confidenciam que sofrem emocionalmente, pois estão insatisfeitos com a sua profissão: são advogados, designers, publicitários, jornalistas, até mesmo médicos. Abandonaram o sonho de ser Ator, sem nem ao menos tentar, muitas vezes por imposição de família. O medo de trabalhar como free lancer. O medo de não ter dinheiro para se sustentar. O medo de não serem bons atores. Mas esse medo , infelizmente, se transformou em uma frustração profunda. E é aí que vem de novo a frase: "Só se vive uma vez". Para se fazer um "turning point" em sua vida, em 1o lugar, é preciso coragem. Não pouca, mas MUITA coragem. E coragem, uma pena, é previlégio de muito poucos. Aí vão me dizer: "Ah Hsu, pra você é fácil dizer isso, você bomba no cinema, já trabalhou em porrada de filmes!". Isso é agora. Quando eu resolvi abandonar medicina, para fazer Cinema, meu pai ficou muito chateado. Mesmo. O que significa fazer Cinema? Para ouvidos leigos, um bando de vagabundos que pegam uma câmera e ficam por aí, filmando qualquer pôrra. Quero ver dinheiro pra pagar as contas no fim do mês. Pois para não ouvir tanta ladainha, resolvi botar "o pau na mesa" e dei meu veredito. Saí de casa, sem um centavo. Só com minhas economias, poucas, mas minhas. Tudo o que tenho hoje : meus dvd's, minhas roupas, minha casa, etc, tudo, veio do meu trabalho. E isso só foi possível porquê decidi transformar minha vida para sempre, fazendo algo que eu AMO. Fazendo o que eu Amo, me dediquei, ralei, sofri, mas fui, bati de porta em porta, mostrei a cara, até conseguir algo. O começo absolutamente, não é fácil para ninguém. Se você tem Q.I. ( Quem indica), ótimo. Mas se você não tiver talento, mesmo com Q.I, morre na praia. Transforme sua vida em algo que o deixe de pau duro. Pau mole não dá tesão. E se não dá tesão, não lhe dá motivação. E dai em diante, é ladeira abaixo. Recentemente, no filme "Rio eu te amo", tive a felicidade de conhecer o ator Paulo Ricardo Campani. Numa conversa de bastidores, ele me contou a história dele, que me comoveu. Ele é veterinário, mas sempre tinha o Ator dentro dele. E resolveu botar para fora esse Ator, depois dos 40 anos de idade. Fez várias peças, vários filmes, inclusive ficou nú nos palcos fazendo "Bonitinha mas ordinária". Eu não tive dúvidas: o chamei para fazer parte do elenco do meu último curta. Como é bom ver as pessoas realizadas na vida, fazendo o que amam. Nunca é tarde para recomeçar a viver! ARRAZA!

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